sexta-feira, 20 de agosto de 2010

QUANDO A “BRINCADEIRA” NÃO TEM GRAÇA NENHUMA...

Diariamente, crianças e adolescentes no mundo todo sofrem com um tipo de violência que vem mascarada na forma de “brincadeira”. Estudos recentes revelam que esse comportamento, que até há bem pouco tempo era considerado inofensivo e que recebe o nome de bullying, e sua versão virtual de cyberbullying, pode acarretar sérias conseqüências ao desenvolvimento psíquico, provocando desde queda na auto-estima até, em casos mais extremos, o suicídio e outras tragédias.

Quem convive com crianças e adolescentes sabe muito bem como eles são capazes de praticar pequenas e grandes perversões. Debocham uns dos outros, criam os apelidos mais estranhos, reparam nas mínimas "imperfeições" - e não perdoam nada e nem ninguém. Na escola, isso é bastante comum. Implicância, discriminação e agressões verbais e físicas são extremamente frequentes. Esse comportamento não é algo novo, mas o modo como pesquisadores, profissionais da saúde e da educação o encaram vem mudando. Há cerca de 15 anos, essas provocações passaram a ser vistas como uma forma de violência e ganharam nome: bullying.

Bullying é um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder.

O bullying se divide em duas categorias: a) bullying direto, que é a forma mais comum entre os agressores masculinos e b) bullying indireto, sendo essa a forma mais comum entre mulheres e crianças, tendo como característica o isolamento social da vítima. Em geral, a vítima teme o(a) agressor(a) em razão das ameaças ou mesmo a concretização da violência, física ou sexual, ou a perda dos meios de subsistência.

O bullying é um problema mundial, podendo ocorrer em praticamente qualquer contexto no qual as pessoas interajam, tais como escola, faculdade/universidade...

Esse tipo de agressão geralmente ocorre em áreas onde a presença ou supervisão de pessoas adultas é mínima ou inexistente. Estão inclusos no bullying os apelidos pejorativos criados para humilhar os colegas.

As pessoas que testemunham o bullying, na grande maioria, alunos, convivem com a violência e se silenciam em razão de temerem se tornar as “próximas vítimas” do agressor. No espaço escolar, quando não ocorre uma efetiva intervenção contra o bullying, o ambiente fica contaminado e os alunos, sem exceção, são afetados negativamente, experimentando sentimentos de medo e ansiedade.

As crianças ou adolescentes que sofrem bullying podem se tornar adultos com sentimentos negativos e baixa autoestima. Tendem a adquirir sérios problemas de relacionamento, podendo, inclusive, contrair comportamento agressivo. Em casos extremos, a vítima poderá tentar ou cometer suicídio.

O(s) autor(es) das agressões geralmente são pessoas que têm pouca empatia, pertencentes à famílias desestruturadas, em que o relacionamento afetivo entre seus membros tende a ser escasso ou precário. Por outro lado, o alvo dos agressores geralmente são pessoas pouco sociáveis, com baixa capacidade de reação ou de fazer cessar os atos prejudiciais contra si e possuem forte sentimento de insegurança, o que os impede de solicitar ajuda.

No Brasil, uma pesquisa realizada em 2010 com alunos de escolas públicas e particulares revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns em alunos da 5ª e 6ª séries. As três cidades brasileiras com maior incidência dessa prática são: Brasília, Belo Horizonte e Curitiba.

Os atos de bullying ferem princípios constitucionais – respeito à dignidade da pessoa humana – e ferem o Código Civil, que determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar. O responsável pelo ato de bullying pode também ser enquadrado no Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço aos consumidores e são responsáveis por atos de bullying que ocorram dentro do estabelecimento de ensino/trabalho.

O cyberbullying é um tipo de bullying melhorado.

A stopcyberbullying.org define o cyberbullying como "o ataque de uma pessoa a outra com o uso de tecnologias interativas", que podem incluir jogos online, e-mails, telefones celulares, mensagens de texto e outros dispositivos eletrônicos. O cyberbullying inclui ameaças de morte, envio de vírus, acesso a contas de e-mail, interrupção da participação de uma pessoa em um jogo online, constrangimento intencional de alguém entre seus colegas, além de muitas outras ações.

Os meios virtuais utilizados para disseminar difamações e calúnias são as comunidades, e-mails, torpedos, blogs e fotologs. Além de discriminar as pessoas, os autores são incapazes de se identificar, pois não são responsáveis o bastante para assumirem aquilo que fazem. Vale resaltar que mesmo anônimos, os responsáveis pela calúnia acabam sendo descobertos.

Infelizmente os meios tecnológicos que, a priori, seriam para melhorar e facilitar a vida das pessoas em todas as áreas estão sendo utilizados para menosprezar e insultar outras pessoas. Não existe um tipo de pessoa específica para ser motivo de insultos, sendo que a invasão do e-mail ou a exposição de uma foto já é o bastante.

Especialistas afirmam que a Internet facilita ainda mais o mau comportamento ou o comportamento anti-social. O anonimato permitido pela Internet encoraja os agressores, já que eles se sentem protegidos das conseqüências de seus atos. Judith Donath, professora da MIT (Massachusetts Institute of Technology - Instituto de Tecnologia de Massachusetts), que estuda mídias e redes sociais, disse à CNN que as interações online mudam facilmente as percepções das pessoas do que é ou não aceitável. Isso também pode contribuir para uma sensação de que os outros participantes não são seres humanos reais [fonte: CNN.com].

Muito do material no cyberbullying somente menciona crianças e adolescentes, mas não se limita a eles. Existem relatórios que mencionam professores como vítimas, com alguns sendo forçados a desistir de lecionar devido a aborrecimentos constantes.

Esse tormento permanente que a internet provoca faz com que a criança ou o adolescente humilhados não se sintam mais seguros em lugar algum, em momento algum. Na comparação com o bullying tradicional, bastava sair da escola e estar com os amigos de verdade para se sentir seguro. Agora, com sua intimidade invadida, todos podem ver os xingamentos e não existe fim de semana ou férias. O espaço do medo é ilimitado. Pesquisa feita este ano pela organização não governamental Plan com 5 mil estudantes brasileiros de 10 a 14 anos aponta que 17% já foram vítimas de cyberbullying no mínimo uma vez. Desses, 13% foram insultados pelo celular e os 87% restantes por textos e imagens enviados por e-mail ou via sites de relacionamento.

As pessoas que praticam o cyberbullying são normalmente adolescentes sem limites, insensíveis, insensatos, inconseqüentes e empáticos. Apesar de gostarem da sensação que é causada ao destruir outra pessoa, os praticantes podem ser processados por calúnia e difamação, sendo obrigados a disponibilizar uma considerável indenização.

Quando se trata de bullying e cyberbullying, é comum pensar que há apenas dois envolvidos: a vítima e o agressor. Entretanto, o que chama mais a atenção é o fato de que há sempre três personagens fundamentais nesse tipo de violência: o agressor, a vítima e a platéia. Além disso, muitos efeitos são semelhantes para quem ataca e é atacado: déficit de atenção, falta de concentração e desmotivação para os estudos

Veja a seguir o que caracteriza a ação de cada um deles nos casos de violência entre os jovens.

Vítima

Costuma ser tímida ou pouco sociável e foge do padrão do restante da turma pela aparência física (raça, altura, peso), pelo comportamento (melhor desempenho na escola) ou ainda pela religião. Geralmente, é insegura e, quando agredida, fica retraída e sofre, o que a torna um alvo ainda mais fácil. Segundo pesquisa da ONG Plan, a maior parte das vítimas - 69% delas - tem entre 12 e 14 anos.

Algumas das doenças identificadas como o resultado desses relacionamentos conflituosos (e que também aparecem devido a tendências pessoais), como angústia, ataques de ansiedade, transtorno do pânico, depressão, anorexia e bulimia, além de fobia escolar e problemas de socialização. A situação pode, inclusive, levar ao suicídio. Adolescentes que foram agredidos correm o risco de se tornar adultos ansiosos, depressivos ou violentos, reproduzindo em seus relacionamentos sociais aqueles vividos no ambiente escolar. Alguns também se sentem incapazes de se livrar do cyberbullying. Por serem calados ou sensíveis, têm medo de se manifestar ou não encontram força suficiente para isso. Outros até concordam com a agressão. O discurso deles vai no seguinte sentido: "Se sou gorda, por que vou dizer o contrário?" Aqueles que conseguem reagir alternam momentos de ansiedade e agressividade. Para mostrar que não é covarde ou quando percebe que seus agressores ficaram impunes, a vítima pode escolher outras pessoas mais indefesas e passam a provocá-las, tornando-se alvo e agressor ao mesmo tempo.

Agressor

Atinge o colega com repetidas humilhações ou depreciações porque quer ser mais popular, se sentir poderoso e obter uma boa imagem de si mesmo. É uma pessoa que não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo e para quem o sofrimento do outro não é motivo para ele deixar de agir. Pelo contrário, se sente satisfeito com a reação do agredido, supondo ou antecipando quão dolorosa será aquela crueldade vivida pela vítima. O anonimato possibilitado pelo cyberbullying favorece a sua ação. Usa o computador sem ser submetido a julgamento por não estar exposto aos demais. Normalmente, mantém esse comportamento por longos períodos e, muitas vezes, quando adulto, continua depreciando outros para chamar a atenção. O agressor, assim como a vítima, tem dificuldade de sair de seu papel e retomar valores esquecidos ou formar novos.

Espectador

Nem sempre reconhecido como personagem atuante em uma agressão, é fundamental para a continuidade do conflito. O espectador típico é uma testemunha dos fatos: não sai em defesa da vítima nem se junta aos agressores. Quando recebe uma mensagem, não repassa. Essa atitude passiva ocorre por medo de também ser alvo de ataques ou por falta de iniciativa para tomar partido. O espectador pode ter senso de justiça, mas não indignação suficiente para assumir uma posição clara. Também considerados espectadores, há os que atuam como uma platéia ativa ou uma torcida, reforçando a agressão, rindo ou dizendo palavras de incentivo. Eles retransmitem imagens ou fofocas, tornando-se coautores ou corresponsáveis.

O FIM DA”BRINCADEIRA”...

Para quem é vítima de algum desses tipos de humilhação, a saída é “se abrir”, ou seja, procurar ajuda, começando pelos próprios pais.

E quem tem um filho passando por esse problema precisa mostrar-se disponível para ouvi-lo. Nunca se deve aconselhá-lo a revidar a agressão; mas, sim, esclarecer que ele não é culpado pelo que está acontecendo. Também é fundamental entrar em contato com a escola.

Mas, se os pais não têm certeza de que seu filho sofre com essa violência, podem ficar atentos aos seguintes aspectos: Os alunos-alvo são crianças ou adolescentes que são, sistematicamente, discriminadas, humilhadas ou intimidadas por outros colegas. Geralmente, eles têm poucos amigos, procuram se isolar do grupo e são identificados por algum tipo de diferença física ou comportamental. Além disso, têm dificuldades ou inabilidades que os impedem de buscar ajuda, são desesperançados quanto a sua aceitação no grupo e tendem a um comportamento introvertido.

Especialistas do mundo inteiro concordam sobre o fato de que o papel dos pais — tanto de alunos agressores como de agredidos — é fundamental para combater a violência moral nas escolas e de que eles precisam saber lidar com a situação. No caso dos pais de agressores, é preciso que se convençam e mostrem aos filhos que esse comportamento é prejudicial a eles. De acordo com dados obtidos em trabalhos internacionais, não existe escola sem bullying. O objetivo é alterar a forma de avaliação do que é uma brincadeira e do que é bullying, mudando o enfoque da questão para a valorização do sentimento de quem sofre bullying, ou seja, respeitando seu sofrimento e buscando soluções que amenizem ou interrompam isso. Os autores de bullying podem se tornar líderes entre os alunos por disseminarem o medo e estarem repetindo seu modelo familiar, em que a afetividade é pobre ou a autoridade é imposta por meio de atitudes agressivas ou violentas.

A melhor maneira de combater esse tipo de prática é a cooperação por parte de todos os envolvidos: professores, funcionários, alunos e pais. Todos devem estar de acordo com o compromisso de que o bullying não será mais tolerado. As estratégias utilizadas devem ser definidas em cada escola, observando-se suas características e as de sua população. O incentivo ao protagonismo dos alunos, permitindo sua participação nas decisões e no desenvolvimento do projeto, é uma garantia ainda maior de sucesso. Não há, geralmente, necessidade de atuação de profissionais especializados; a própria comunidade escolar pode identificar seus problemas e apontar as melhores soluções. Para os profissionais da saúde que atuam com a problemática, a receita é promover um ambiente escolar seguro e sadio, onde haja amizade, solidariedade e respeito às características individuais de cada um de seus alunos. Enfim, é fundamental que se construa uma escola que não se restrinja a ensinar apenas o conteúdo programático, mas também onde se eduquem as crianças e adolescentes para a prática de uma cidadania justa.

Este é um tema extenso e polémico, um post não é capaz de falar tudo a respeito da temática em questão, porém espero ter esclarecido algumas dúvidas a respeito.

Para maiores informações sugiro:

1)a leitura de dois livros:

· Perseguição, Tânia Alexandre Martinelli, Ed. Saraiva, 104 págs. A autora presenciou situações de bullying como aluna e também trabalhando como professora e conta as histórias de Leo e Malu estão no 9º ano e são vítimas de bullying. Amigos, eles sofrem com a tortura dos colegas da escola até que... Leo não aguenta mais ser alvo de piadas e críticas e reage de modo perturbador para todos, principalmente para a garota.

· Bullying e Suas Implicações no Ambiente Escolar, Sônia Maria de Souza Pereira, Ed. Paulus, 96 págs. A autora é Pedagoga formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e na obra trata do bullying, numa tentativa de propor soluções que reúnam escola e família em torno de uma Educação para o respeito mútuo.

2)visita aos sites:

http://www.stopcyberbullying.org/ (em inglês)

http://www.bullying.com.br/

http://www.plan.org.br/index.html

Obrigada, bjnhos a todos e até a próxima!!

2 comentários:

  1. O bullying tá muito presente mesmo aqui no Brasil. Não sei se tem mais influência da TV ou se dos pais que deveriam ser exemplos.. E parabéns pelo espaço!!! XD

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  2. infelizmente é a nossa realidade...ficamos com essa dúvida...mas, não podemos ter dúvidas que algo precisa ser feito. Tanta violência nesse mundo e nossas cças e adolescentes seguindo esse péssimo exemplo.
    imagina, eu que agradeço por vc compartilhar conosco seu ponto de vista!! essa é a proposta do blog.
    bjnhos

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Assim que possível responderei. Agradeço. Bjnhos

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